Após assistir a este vídeo, fiquei verdadeiramente perplexo, boquiaberto e, para ser sincero, desiludido com o ser humano.
No vídeo, um rapaz no estado do Maranhão é espancado por uns dois ou três sujeitos, portando pedaços de madeira (pedaços de pau), simplesmente porque a vítima supostamente teria furtado ou roubado na comunidade. Como é cediço, muita gente não costuma perdoar ladrões (furtadores ou assaltantes), chegando mesmo, como frequentemente acontece, os ladrões serem linchados, sendo no mínimo espancados, quando não acabam "pagando" com a vida.
Não estou aqui defendendo ladrões, não é isso, defendo, isso sim, um julgamento justo, realizado pelo Estado-juiz, sendo observadas todas as garantias previstas constitucionalmente, dentre elas a vedação de penas cruéis.
Isto sim, estou defendendo um ser humano, que foi vítima das mais atrozes crueldades cometidas por alguns elementos (vingadores, justiçeiros), que erroneamente se acham no direito de espancar, ou melhor, praticamente matar, através de muita pancada (no final do vídeo tem até uma garrafa quebrada em sua cabeça), uma pessoa que se achava imobilizada, sem nenhuma chance de oferecer resistência.
O que causa mais indignação, frise-se, é que estas mesmas pessoas que estavam espancando (eufemismo) o suposto ladrão, não entendem que estavam espancando na verdade uma pessoa deles, uma vítima social, uma pessoa que não teve nenhuma oportunidade na vida, pessoa esta que o Estado nunca beneficiou de alguma forma (saúde, educação, segurança, trabalho, etc.), indivíduo que o estado sempre exigiu, mas que nunca o ajudou.
Contudo, quando aparece um político inescrupuloso, rico, comprando voto, ai, nessa hora, eles o chamam de doutor, fazem festa na comunidade, o tratam como um Rei. Infelizmente, essas pessoas não conseguem ver - provavelmente em decorrência da falta de oportunidade de estudar a que estão acometidos milhões de brasileiros - que esses "reis", corruptos, que se enriquecem "tirando" o dinheiro da saúde, segurança, escola de nossas crianças, são os piores criminosos de nosso país, e não o coitado, que fora vítima no vídeo acima, mais uma vítima do sistema.
Infelizmente, esse é um dos graves sintomas que o Brasil sofre, isto é, a "miopia e estigmatismo" coletivos, fazendo com que as pessoas enxerguem os indivíduos criminosos como "imperadores" (as pessoas responsáveis pela péssima qualidade dos serviços de saúde, educação, etc) e as vítimas sociais como "monstros", seres diferentes deles, que devem apanhar muito, quando não violentamente mortos, por ter furtado um objeto de pequeno valor, como por exemplo um aparelho celular, carteira, etc.
Infelizmente, ainda hoje muito sábios são os ensinamentos de Padre Antônio Vieira, em seu Sermão do Bom Ladrão, quando aduz que roubar pouco é culpa e o roubar muito é grandeza, in verbis:
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.
Percepção
ResponderExcluirO planeta está em colapso.
As relações humanas, falidas.
E o paradigma, ultrapassado.
Só ouço falar em crise.
E a promessa do progresso.
É, promessa.
O comunismo se achou o tal
mas só restou o projeto.
Sim, o projeto neoliberal.
Liberdade, será?
Não, individualismo, exploração e opressão.
E agora, o que será?
Qual a solução?
Muitos falam em educação.
Formam-se humanistas.
Mas já escolhi minha profissão.
Serei médico, oftalmologista.
Por que o que a gente precisa
é de uma nova visão.
(Paulo Sena)
Prezado, Adão Mendes. Muito bem feita e pertinente a sua colocação quanto a visão da população no tocante aos delitos de furto praticados por grandes figuras políticas e os por personagens sociais que não tiverem nenhuma oportunidade disponibilizada pelo Estado e acabaram se enveredando pelo mundo do Crime como uma forma de subsistência. Além disso, percebemos que a "miopia" e o "estigmatismo" do povo remonta ao século XVI, conforme a descrição feita por Padre Antônio Vieira no seu Sermão do Bom Ladrão. Grande abraço.
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